sábado, 17 de dezembro de 2011

Como cheguei em Ipupiara e "descobri" a festa...

          Meu projeto de mestrado "teve origem após minhas idas e vindas ao sertão da Bahia, algumas a passeio, outras por incursões religiosas. Numa dessas oportunidades, junto com um grupo de amigos católicos, conheci a região do centro-sul baiano, a aérea setentrional da Chapada Diamantina e o vale do Rio São Francisco. Naquela época sequer imaginava que um dia pudesse ir a região com o intento de realizar uma pesquisa antropológica. No entanto, é em momentos como esses que os imponderáveis de nossa vida simplesmente se revelam. Nessas viagens, conheci Ipupiara, uma pequena cidade localizada a 634 quilômetros de Salvador, com cerca de 9.400 habitantes." (GUTIÁ, 2011, p. 4)
Igreja Matriz de Ipupiara - Foto tirada em um dos dias da festa no ano de 2011.

          
     
    "Num primeiro momento, Ipupiara me parecia como qualquer outra cidade pequena das que havia conhecido na região, mas algo distinto ali foi sendo a mim apresentado na medida em que fui me relacionando com seus moradores. A figura bíblica de São João Batista era um elemento fundamental de motivação e constituição da religiosidade católica local. Esse aspecto não se apresentou a mim por acaso, mas porque eu estava em meio a um grupo católico, sendo assim identificado naquele momento. "  (idem)

           
"Ipupiara é uma cidade [onde] as festas, na sua maioria, são organizadas por produtores, no estilo blocos e micaretas ou por clubes locais. Este tipo de festa tem diminuído em relação aos anos anteriores, segundo me apontaram alguns interlocutores quando relatei meu interesse de pesquisa. As outras festas são basicamente as organizadas pela Igreja Católica, em parceria com a prefeitura, principalmente quando se trata da festa de padroeiros das comunidades mais populosas da cidade. São estas últimas, as únicas e poucas festas onde a população tem acesso gratuito aos shows, muitas vezes de artistas famosos da região." (ibidem, p.5)
        
        "De todas as festas, sem dúvida a que mais movimenta a cidade é a de seu padroeiro, São João. As atividades religiosas se intensificam, principalmente pelo número de celebrações que a Igreja Católica passa a promover e organizar; o comércio se fortalece, uma vez que muitos lojistas abastecem seus estabelecimentos com novos produtos a fim de que as pessoas possam adquirir novas roupas e acessórios para participar da festa; o movimento das ruas aumenta, os bares ficam mais cheios e o assunto das conversas é a festa." (ibidem) Diante dessas observações passei a pesquisar sobre a festa de São João, em Ipupiara.


Referência bibliográfica: GUTIÁ, Marcel Schmitz. As faces do São João: oração, diversão e a construção de uma festa no sertão da Bahia. Qualificação de Projeto de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 2011.

Um começo...

Entrada da cidade de Ipupiara - 630 km de Salvador 
Inspirado no livro "Grande sertão: veredas", de Guimarães Rosa, o antropólogo Carlos Rodrigues Brandão, um estudioso da cultura popular já dizia: "e é justamente desses sertões que eu quero trazer aqui uma das inocentes e sábias confissões de fé "na minha crença", associada a uma crença "na fé dos outros." (BRANDÃO, 2010, p. 9)

 Com essa reflexão acima é que inicio minhas digitações, observações e reflexões sobre parte do sertão da Bahia, mais especificamente da cidade de Ipupiara, região da Chapada Diamantina, onde a partir de 10/01/2012 até o mês de julho, estarei realizando minha pesquisa de campo sobre festas e religiosidades, junto ao mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGAS/UFSC). Desde já quero reconhecer e agradecer o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (CNPq/MCTI) e do Instituto Nacional de Pesquisa Brasil Plural (IBP) pela liberação de verbas, que foram, de inestimável importânica para essa minha empreitada antropológica. Quero também agradecer o apoio de parte de minha família e dos meus amigos que me incentivaram desde o início dessa pesquisa.

Durante esse tempo quero partilhar com vocês meus olhos, meus ouvidos e meus sentimentos no sertão, nesse tempo quero "ser, a cada momento o que se é, mas como um ser fluido e mutante [...]. Errar entre identidades, entre sistemas identitários de ciência, de religião, de arte, de ética, de política. Viver de buscas e circular entre adesões efêmeras, amores passageiros, deuses mutantes, teologias provisórias e teorias mutáveis...."